sábado, 31 de março de 2007

Dias mundiais

Escrevi aqui que me parecia indigno que a Mulher tivesse um dia mundial. A importância da Mulher não merecia um dia, como se de qualquer coisa vulgar se tratasse.
Nem a propósito. Sobre dias mundiais, vejamos o que escreveu Ivan Lessa.
Não se pode dizer que o meu texto esteja mais mal escrito que o de Lessa. Isso seria compará-los, o que é impossível. Há coisas que não podem ser comparadas...

made in eu

Dia a dia

Sábado, depois de meus exercícios de fisioterapia, eu fiquei na janela olhando o jardim e dedicando bons pensamentos a todos os tuberculosos deste mundo.
No dia anterior, sexta-feira, 23 de março, eu li com a maior atenção todas as previsões de tempo em todos os jornais existentes aqui da BBC Brasil.
Desnecessário dizer, para os entendidos, que, na quinta-feira, 22, eu tomei o máximo que pude de água (4 garrafas de 1 litro, sem gás) e, em casa, cuidei de não deixar torneira alguma aberta por muito tempo.
Terça-feira, 27 de março, irei ao teatro ver “The lady from Dubuque”, do Edward Albee, com a Maggie Smith. Quinta, 29 de março, abrirei o álbum de fotografias e observarei com a devida atenção e respeito velhos instantâneos que me captaram moço e despreocupado com a passagem dos dias, e quando for à rua, tirarei um chapéu figurado da cabeça em sinal de respeito a todo jovem que passar por mim.
Sim, eu danço a dança não das horas, de Ponchielli, mas do calendário. Eu observo não o horóscopo mas o passar de dias mundiais especiais. E a coisa é para praticamente todos os dias do ano.
Difícil dar um passo, ir à rua ou mesmo ficar em casa e não ser Dia Mundial de alguma coisa. Um calendário complexo que me deixa sem saber direito o que fazer, como respeitar a nobre passagem das 24 horas em questão, decididas ou não pelas Nações Unidas.
Quando eu era garoto, todos os dias eram mais fáceis. De letras maiúsculas mesmo, tinha: o Carnaval, o Sete de Setembro, o Quinze de Novembro e o Natal. Que eu me lembre, só este último não tinha parada com soldado desfilando.
O dia no mundo
Agora a vida é mais difícil. Complicaram-se os dias. Ou Dias. Desde o primeiro dia do ano, 1 de janeiro, claro, que é o Dia Mundial da Paz (nunca esquecer que esses dias especiais são todos escritos e vividos em maiúsculas).
Não sei o que fazer pela paz, não sei o que meio mundo de ressaca possa fazer.Talvez já estejam fazendo algo pela paz no simples ato, com a “alcacelça”, de tentar fazer passar a dor de cabeça e o enjoo da ressaca provocada pela carraspana do “réveillon”.
Depois temos quase 28 dias para nos prepararmos para um dia terrível: o 29 de janeiro, que é o Dia Mundial dos Leprosos, ou Sofredores do Mal de Hansen, conforme querem os politicamente corretos (qual será o dia deles?).
Março é esse desfile que eu já cobri em parte. Ficaram faltando os seguintes dias: Internacional da Mulher, dos Direitos do Consumidor, da Floresta e da Árvore (21 de março, começo da primavera no hemisfério norte, né?) que entra em choque direto com o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial.
Quer dizer: a gente deve sair pela rua distribuindo flores para aqueles que pertencem às minorias raciais e sopapo naqueles que contra eles discriminam.
Nesse passo, passamos por um abril com seu Dia Internacional do Livro Infantil, da Saúde, da Juventude (uai, de novo? Ser jovem é bom, hem?), da Doença de Parkinson, do Hemofílico, dos Sítios e Monumentos, da Sensibilização para o Ruído, da Terra, do Livro e dos Direitos do Autor, do Escutismo (Escutismo? Por que não do Escoteiro?), da Liberdade, da Prevenção e Segurança no Trabalho e, finalmente, a 29 de abril, o Dia Mundial da Dança.
Não vou enumerar os Dias Especiais dos meses de maio a dezembro, mas posso garantir que, além do Dia do Cigano e do Dia do Relógio do Sol, quase nada mais escapa. Só não se sabe duas coisas: quem decide essas coisas e o que exatamente querem que a gente faça nos Dias com D maiúsculo?
Sugiro criarem logo o Dia Mundial dos Dias Mundiais para esclarecer essas coisas.


Ivan Lessa

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