domingo, 25 de setembro de 2011

Saúde em Portugal

Para uns minutos de diversão, o Estado oferece pílulas e preservativos. Para doenças, aumenta as taxas e diminui as comparticipações. Ou este país não fosse uma gigantesca foda.

No posto de saúde:

- Preciso de anticoncepcionais.
- Tome e vá foder.

- Tenho uma amigdalite, 40º de febre, mal me aguento em pé. Pode dar-me uma caixa de penicilina?
- Vá-se foder!


made in eu

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

bugger off

Marta estava furiosa. Depois da preparação para a noite e de finalmente ter ido com Fernando, encontrava-se agora em sua casa sem compreender o mundo.

- Estiveste com quem? Estiveste com a Marta na tua cama e mandaste-a embora?
- Se quisesse umas pernas que pareciam de cera, comprava uma boneca de silicone.
- Mas as mulheres rapam as pernas.
- Não são as pernas delas que me interessam mas sim a sua preocupação com elas. Tanto se me dá que as rapem ou não. É a importância que dão a isso que não suporto. Não suporto gajas que achem um problema um pelinho fora do lugar. Entendes?
- Não! Achavas bem que o Cavaquistão falasse ao país com a barba por fazer?
- Achavas bem que ele tivesse de fazer a barba para...

A menina da caixa do supermercado acabara de fazer a conta e eles saíam dali.

- Achas que a menina rapa as pernas?
- Achas que me interessa? Já viste as unhas artificiais que tem?


made in eu

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Zara

João debruçou-se sobre a folha de papel e escreveu:

Carlos debruçou-se sobre a folha de papel e escreveu: Vitor debruçou-se sobre a folha de papel e escreveu o que há muito queria: escolher palavras que contassem, mais a ele do que a outros, a sua paixão de há anos. O amor mais romântico era o não correspondido. Ela pouco sabia da sua existência. Ele amava-a. Ela parecia incomodada ao vê-lo, ele sonhava acordado com ela à vista. Vira-a anos antes e sem saber como nem porquê fascinou-se com ela. Não sabia o seu nome, a sua idade, dela sabia nada. Via-a apenas, quase todos os dias, por uns minutos.
Carlos parou de escrever por uns momentos; sentia o que Vitor sentia e também ele continuava apaixonado. Vitor continuou a escrita com ela na memória. Viu-a de cabelo curto, passou por ela com cabelo comprido, de t-shirt no verão ou de anoraque no inverno, de sandálias com sol ou botas com chuva, ela era os seus poucos minutos diários de sonho. No corredor do comboio senti-a perto de si. Ele para ela não existia. Ela para ele era tudo.
Carlos teve medo. Parou uma vez mais. Não queria deixar Vitor ir até ao pormenor mais ínfimo do seu sentimento. Deixou. Vitor acabou por conhecer uma amiga de Zara. Só aí lhe soube o nome, só aí soube que se ia casar, só aí se sentiu mais próximo do que nunca. Chamava-se Zara a sua deusa. Soou-lhe perfeito. E ia casar-se. Tantos anos apaixonado e perdera-a de vez. Quem seria ele? Quão feliz estaria ela?
Uma vez mais, Carlos parou. Estaria Vitor a sofrer com as memórias? E ele? Não estavam. Gostavam dela tanto que se sentiam melhor quanto mais nela pensavam. Vitor continuou a vê-la, casada, e não soube se nada tinha mudado, se tinha mudado tudo.
Carlos lembrava-se bem do sentimento. Zara era também a sua apaixonada.
Vitor mantinha-se estático quando alguém se colocava entre si e Zara impedindo-o de vê-la, mas fazia um esforço numa calma aparente. Queria olhá-la continuamente até ela sair umas paragens antes da sua e ficava a vê-la pela janela até desaparecer na curva ou o comboio arrancar.
Carlos quis sentir pena de Vitor mas apenas sentiu de si próprio. Quantos anos apaixonado... Melhor assim; adorá-la ao longe e ter para si o mais puro dos amores, o imaginado.
Vitor deixou de ver Zara. Desapareceu, ela. Carlos não sentia alívio nem raiva, apenas torpor. Por quantos anos mais poderia Carlos viver apaixonado por Zara? E Vitor?

João sabia-o: a vida inteira.


made in eu

domingo, 11 de setembro de 2011

Nascidos para nos salvar

Quando a troika chegou à gruta para ver o Deus Menino, todos se curvaram para deixá-la entrar.

Primeiro entrou Melquior, mais velho, cansado de ter vindo da terra dos Caldeus. Como reconhecimento da realeza, ofereceu ouro.

Baltasar, mouro, de barba cerrada e com 40 anos, reconhecendo a humanidade, que era coisa desconhecida no Golfo Pérsico de onde partira, deixou ao lado das palhas, mirra.

Gaspar, mais novo e forte, chegado do Mar Cáspio, apesar do incenso que trazia, olhando pausadamente e pensativo para todas as prendas, decidiu que o Menino Jesus estaria no 1º escalão do IRS e que deveria entregar-lhe metade de todas as ofertas recebidas.

Protestaram Baltasar e Melquior mas Gaspar disse-lhes que só assim o Salvador poderia salvar o Seu reino que era afinal de todos.

Maria conformou-se mas José chamou-lhe neoliberal de merda e que fosse roubar 'o caralho que o foda'.

Ao ouvir tal heresia, mugiu a vaca, e o burro, levantando-se, acenou com a cabeça como se achasse aquele rei mago seu semelhante.

Fazendo de conta que nada viu nem ouviu, saiu de imediato Gaspar, murmurando entre dentes:

- E é se não querem uma penhora aqui na gruta.


made in eu

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

idades & valores

Equivalências nunca foram bem entendidas por Sílvio. Mulheres, menos ainda. Mas duma coisa estava convicto: uma mulher de quarenta não valia duas de vinte. Antes, uma de vinte valia todas as de quarenta; de vinte, quarenta, ou de quantos universos fossem.

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