O génio do capitalismo português.
O génio agiota tem na figura de exemplo Jardim Gonçalves. Como investidor, limita-se a emprestar dinheiro e a cobrá-lo a juros. Ele é o grande agiota. E como todos os agiotas, não segue leis, segue o instinto que lhe diz para emprestar aos que pouco têm, para poder dar muito aos que nada necessitam. É muito amigo dos seus filhos e de todos os gestores que o ajudem a ligar o banco a offshores em países que só conhecemos como lugares exóticos para passar férias.
O génio merceeiro tem como figura de proa Belmiro de Azevedo. Ele é o grande merceeiro. É certo que não usa lápis atrás da orelha, mas usa empregas de caixa pagas mais ou menos a salário mínimo, compra produtos de todo o mundo e revende-os, ajudando assim a globalizar o mundo, mas não a desenvolver o país onde implanta a merceeiria. É arrogante e respeitado; por quê? – Porque é rico e isso chega.
O génio mestre-escola é uma figura estranha, move-se entre a política e a marginalidade. Tem ligações com países que são governados simpaticamente por ditadores (como é o caso de Angola) ou com países cocaínados, como a Colômbia. Possui armazéns onde se vendem cursos, muitos deles sem serventia alguma, mas com a vantagem de conseguir passar diplomas de engenharia civil aos domingos de manhã; disponibilidade esta que os políticos portugueses muito apreciam.
O génio barbeiro da medicina é igualmente uma figura difusa. Movimenta-se entre os bancos e as seguradoras. Compra ou constrói hospitais, contrata médicos palopes pagos a salários equivalentes às notas com que se formam, mistura uns quantos foragidos do leste da Europa e vende os seus serviços a todos os que não tendo saúde, têm mais dinheiro do que bom senso. O génio barbeiro da medicina é capaz de pegar num ex-jogador de futebol e pagar-lhe um jantar bem regado e em troca usá-lo como modelo publicitário para o lançamento de um novo hospital, inaugurado, por exemplo, com uma intervenção cirúrgica às coronárias; usufruindo ainda de uma publicidade televisiva grátis em troca de inacreditáveis boletins clínicos, debitados à média de 1 por cada meia hora.
O génio fura-vidas tem como exemplo todo o chico esperto que tendo dinheiro para fazer qualquer coisa de mais útil, prefere abrir pequenos cafés, croissanterias e pizzarias e bares nocturnos. Abre e fecha estabelecimentos, e tão depressa está hoje a vender: - Uma bica para a mesa do canto!, como amanhã a requisitar moças romenas para o seu bar de alterne.
O génio capitalista, nos dias de hoje, é isto. Faz sentir saudades dos velhos capitalistas que investiam na indústria e produziam alguma coisa em Portugal, não faz? - Que Deus os guarde em boa memória -. O génio capitalista de hoje não inventa, mas também não engana ninguém, por isso continua verdadeira a afirmação:
O verdadeiro génio é aquele que alimentando-se unicamente de pão com manteiga, consegue defecar diamantes lapidados (…mas se o fizesse sem arranhar o cú, então é que era!)
jc