sábado, 15 de setembro de 2007

Larry

Sexo era um problema para Larry. Não por não tê-lo, mas por tê-lo.
Era-lhe quase insurportável tê-lo com a sua mulher. Sem ela, impensável.
Os gemidos, como se a magoassem, e os gritos, como se a matassem, eram uma tortura para Larry.
Os odores pareciam-lhe nauseabundos e o gosto dava-lhe vómitos.
As posições em que a mulher se punha, ou queria pôr, eram indecorosas e Larry mostrava sinais de um quase ataque de pânico durante o coito.

Porque não desistia de tal atrocidade?

Porque Larry amava, e o amor era mais forte que o ódio. Larry não tinha força, nem vontade, para desistir do fabuloso arroz de manteiga que a sua mulher cozinhava. Era um vício, uma dependência tão forte que, para não perder o cereal, perdia-se a si.

Não escondia o problema. A mulher deixava-o utilizar tudo o que precisasse para diminuir o asco; tampões no nariz, nos ouvidos, e uma venda nos olhos.

O desespero em não conseguir desistir do arroz de manteiga levou-o a prometer a Deus que, se algum dia o conseguisse, agradeceria da forma que julgava mais justa, e tornaria o sexo no seu Dia de Acção de Graças, i.e. na quarta quinta-feira de cada Novembro.


made in eu

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