sexta-feira, 12 de outubro de 2007

disto e daquilo

Cada vez que Fernando pensava naquilo a casa não vinha a baixo. Nem a casa, nem a Trindade, e o Carmo ficava de pé.

Não sabia Fernando que, dois prédios depois da esquina, Amaro pensava o mesmo.

Pensar naquilo, com quem se jurara amor eterno, era odioso, mas deveria ser feito, quer pela não importância matrimonial, quer pelo poder de se ser homem, sem laivos de piedade.

O café da frente tornara-se o epicentro que os transportaria àquilo.

Não sabia Fernando que ela o fazia com Amaro. Mal sonhava Amaro que ela deixava fazê-lo com Fernando.

Aquilo não se fazia, ou devia, mas faziam-no, sem dever.

Cada um tinha pena do outro, sem saber dele, sabendo dela.

Estúpidas mulheres, pensava cada um enquanto naquilo.

Cruzaram-se na farmácia e pagaram o mesmo: sabão anti-bacteriano e um tubo de vaselina esterilizada.

Elas, enquanto não pensavam naquilo, bebiam um café, alguns metros afastadas; uma olhando de lado a saia da outra, a outra sorrindo, antes de chorar, da blusa de alguém.

Até quando se manteriam o Carmo e a Trindade?

made in eu

5 comentários:

Anónimo disse...

Fantástico, simplesmente fantástico. eu sabia que havias de lá chegar.

Simone disse...

Excelente texto.

Simone disse...

Excelente texto.

RDSER disse...

Passando para retribuir a visita.
Gostei do cantinho.
Bjim e bom Domingo.

aorta disse...

Até que a casa venha abaixo...