Cada vez que Fernando pensava naquilo a casa não vinha a baixo. Nem a casa, nem a Trindade, e o Carmo ficava de pé.
Não sabia Fernando que, dois prédios depois da esquina, Amaro pensava o mesmo.
Pensar naquilo, com quem se jurara amor eterno, era odioso, mas deveria ser feito, quer pela não importância matrimonial, quer pelo poder de se ser homem, sem laivos de piedade.
O café da frente tornara-se o epicentro que os transportaria àquilo.
Não sabia Fernando que ela o fazia com Amaro. Mal sonhava Amaro que ela deixava fazê-lo com Fernando.
Aquilo não se fazia, ou devia, mas faziam-no, sem dever.
Cada um tinha pena do outro, sem saber dele, sabendo dela.
Estúpidas mulheres, pensava cada um enquanto naquilo.
Cruzaram-se na farmácia e pagaram o mesmo: sabão anti-bacteriano e um tubo de vaselina esterilizada.
Elas, enquanto não pensavam naquilo, bebiam um café, alguns metros afastadas; uma olhando de lado a saia da outra, a outra sorrindo, antes de chorar, da blusa de alguém.
Até quando se manteriam o Carmo e a Trindade?
made in eu
5 comentários:
Fantástico, simplesmente fantástico. eu sabia que havias de lá chegar.
Excelente texto.
Excelente texto.
Passando para retribuir a visita.
Gostei do cantinho.
Bjim e bom Domingo.
Até que a casa venha abaixo...
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