segunda-feira, 15 de outubro de 2007

crónicas de turim ou "gritar de fome"

tudo começa por pequenos gestos como

1 Não vivermos com fome
2 Não deitarmos comida fora, mas antes guardar o que se cozinhou em excesso
3 Se não podemos comer ou vender tudo dentro do prazo devemos dar, vender, trocar com quem precisa
4 Precisar de comida é precisar de uma alimentação equilibrada e de comer em paz e de saciar a fome e de nos sentirmos nutridos
5 Não ter fome é não nos conformarmos com o que nos falta e lutarmos para o conseguir
...eu muitas vezes sou a única a jantar na cozinha da residência universitária, e estamos em Itália onde muita gente tem dinheiro para comer, mas preferem ser uns "poucoseres" homogeneamente elegantíssimos e pequeníssimos dentro do n°36 de calças e infalivelmente pitosgas só com 25 anos.
E depois sou a única também a perceber o que o professor diz na aula, ao ponto de conseguir escrever o programa informático que este pediu.
A fome é a guerra interna dentro de cada um e, sem a vencermos, não podemos ser agentes de desenvolvimento, nem de nos próprios
A propósito de fome, na semana passada a universidade gentilmente organizou uma recepção aos estudantes erasmus, com um buffet pequeno, mas que até tinha empregados a servir as bebidas! Logo aí dava para a maioria perceber que devia ter uma atitude delicada na degustação dos aperitivos Piemonteses (região italiana onde Torino se encontra). Mas, para não faltarem cá dignos embaixadores da esperteza saloia, logo cai sobre a mesa, para onde eu me dirigia, um bando de famintos portugueses dos quais o melhor exemplo foi a usurpação de um pires de amendoins por uma conterrânea que os engolia à mão cheia!

e a quem pergunto em bom português :"olha lá, tu não tens comida em casa?!!"

e ela, sem me olhar nos olhos, responde de costas curvadas e voltadas para a mesa e ao canto da sala, "ahhhh" (tipo: pois...por acaso...)
eu olhei-a com um misto de vergonha e pena já que tb sou portuguesa, e não gosto de passar fome, mas é pouco provável que lhe falte dinheiro para comer, mas deve faltar a consciência que, sem o fazer, não vai conseguir usufruir da viagem, das aulas, dos amigos, dos momentos pois falta a parte física da paz interna e sem a qual somos apenas animais famintos e com o único horizonte de saciar essa privação.
Rosina Ramos

6 comentários:

osbandalhos disse...

Já lês bem italiano? Entra numa biblioteca, procura Hermann Hesse, e leva o Siddhartha. Ajudar-te-á a lutar contra a fome.

made in eu

bjecas disse...

Aprender a fazer umas massas também...

\m/

serotonina disse...

bolas, o preço da beleza ou o preço de nunca ter aprendido a fazer comida? Os neurónios precisam de carburar, sem dúvida.
E que tal um destes dias um post em italiano?

Simone disse...

Eu cá raramente jogo comida fora...

RDSER disse...

Passando pra te deixar um bejim.

osbandalhos disse...

pois eu, quando há comida à borla, também sou mesmo português, tenho que confessar. A minha técnica consiste em colocar-me estrategicamente junto de um prato com rissóis. Assim que dão a partida eu só como rissóis, literalmente uns atrás dos outros, até ficar satisfeito (se forem dos bons chegam uns 8 a 12). Como normalmente há mais gulosos, acontece o "meu" prato ficar vazio primeiro, e por isso tenho que mudar de sítio, para ficar perto de um prato que ainda tenha rissóis, para perfazer a minha quota parte de auto-satisfação. É que, se repararem, nestes portos de honra, os rissóis são sempre a iguaria que acaba primeiro, e se começamos pelo pão com queijo, quando vamos aos rissóis, é provável que já não dê para comer 8. E pronto, depois como mais uns salgados, evito as carnes por vocação vegetariana, e passo aos doces até descobrir o melhor, e depois repito do melhor até ficar mesmo cheio, ou enjoado de tanto doce. Claro que não encho a barriga com água ou sumos ou refrigerantes, quando muito lá vai um cálicezinho de porto, para honrar a borla!
Rosina, desculpa, mas eu sou mesmo assim...

JP+P