sábado, 2 de abril de 2011

A fingir é que a gente se entende

- OH OH OH, conta lá isso, tu finges uma ereção?

Na aldeia do Cuco Negro, Teodoro Malaquias trabalhava no minimercado de José Salomão, o emigrante regressado e divorciado de Maria Josefa, mãe de 2 filhos, nenhum de José.

- A mulher era um desastre – dizia José Salomão à mesa do café - Nem um estufado de cabra sabia fazer. Em França só se comia enlatados e já aqui era eu que cozinhava. Ela dizia que não queria engordar. Engordar, aquele pote de banhas.

Na aldeia do Cuco Negro, Teodoro era casado com Elisa Tomé, uma minhota que, por um problema fisiológico, não podia ter filhos.

- Que sorte – dizia José Salomão – pelo menos não usas preservativos.

- Não uso uma ova – respondeu Teodoro – eu conseguia lá entrar naquilo sem proteção. Seria como meter as mãos no esgoto sem luvas.

- E como finges tu uma ereção? Essa é para os cientistas estudarem.

- Não tem nada de estudo. Enquanto ela finge, e não sei para quê, para ela, suponho, para que se engane a si própria, como se eu me importasse, eu finjo e é impercetível.

- Mas como?

- Penso que estou com outra. Requer alguma concentração mas a nível físico não se consegue notar. Tudo se passa aqui dentro da cabeça. Não acha que é fingimento suficiente? Não acha que é uma ereção a fingir, consegui-la só porque me abstenho de pensar que estou com quem estou e imaginar estar com alguém que não ela?

- Eu não conseguiria. A imagem e o sentimento da gordura não me largariam.

- Pois treine-se. Concentre-se. Comece a fazer uns sudokus. É um bom princípio – disse Teodoro, acabando de beber o seu licor de figo e saindo ainda a tempo de ver José Salomão pegar no jornal e pedir se alguém tinha uma caneta que lhe emprestasse.


made in eu

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