quarta-feira, 13 de abril de 2011

cremosa

Quando a quota de deputadas foi aprovada, a ilha Cremosa engrossou o debate.

Uma mulher em cada dez deputados da assembleia. Num total de vinte cinco deputados, teria de haver duas mulheres e meia. Duas mulheres arranjavam-se, não sem discussão: Porque eram inteligentes, porque tinham peitos majestosos, porque tinham peitos pequenos, porque as saias eram curtas, porque os olhos eram de determinada cor, porque os decotes eram desenho de Paris, porque eram solteiras, porque eram casadas, porque eram virgens, porque já por dezenas de vezes tinham deixado de ser virgens, ou centenas, porque queriam poder, porque queriam dinheiro, porque se sacrificavam pelo povo, porque eram menos violentas, porque não se deixavam dominar, porque gostavam de ser dominadas, porque a lingerie era mostrada em festas, etc.

Mas meia mulher? Arrangem só um rabo e ponham-no numa cadeira, dizia alguém. Alguém dizia que um rabo valia, pelo menos, uma mulher e meia. Alguém dizia que a quota era estúpida, que uma mulher só bastava, outros, que as mulheres deviam ser em número ímpar, outros ainda que só era mulher a que tivesse filhos, etc.

Foi Maoui Vatan a eleita pelo partido das ondas que ganhou direito a um dos lugares. Maoui Vatan era mulher há dois anos. Antes tinha sido homem. Foi operada em França com sucesso, ou sussexo, como ela, ou ele, dizia.

Novo “tsunami” na Cremosa. Que deveria mostrar o sexo para se saber quão mulher era, que devia mostrar os seios, que devia mostrar os pelos das pernas, das axilas e até uma radiografia foi pedida para se saber se havia ovários.

Entre Maouti, ex-Truquino, e as duas e meia, anulou-se a quota. Apelando-se ao lado espiritual e religioso, ainda foi levantada a hipótese de em vez de mulheres haver vacas no parlamento mas como a diferença só foi reconhecida por dois, dos vinte cinco deputados, ganhou a proposta de deixar a quota para a nova legislatura, daí a quatro anos.


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