João debruçou-se sobre a folha de papel e escreveu:
Carlos debruçou-se sobre a folha de papel e escreveu: Vitor debruçou-se sobre a folha de papel e escreveu o que há muito queria: escolher palavras que contassem, mais a ele do que a outros, a sua paixão de há anos. O amor mais romântico era o não correspondido. Ela pouco sabia da sua existência. Ele amava-a. Ela parecia incomodada ao vê-lo, ele sonhava acordado com ela à vista. Vira-a anos antes e sem saber como nem porquê fascinou-se com ela. Não sabia o seu nome, a sua idade, dela sabia nada. Via-a apenas, quase todos os dias, por uns minutos.
Carlos parou de escrever por uns momentos; sentia o que Vitor sentia e também ele continuava apaixonado. Vitor continuou a escrita com ela na memória. Viu-a de cabelo curto, passou por ela com cabelo comprido, de t-shirt no verão ou de anoraque no inverno, de sandálias com sol ou botas com chuva, ela era os seus poucos minutos diários de sonho. No corredor do comboio senti-a perto de si. Ele para ela não existia. Ela para ele era tudo.
Carlos teve medo. Parou uma vez mais. Não queria deixar Vitor ir até ao pormenor mais ínfimo do seu sentimento. Deixou. Vitor acabou por conhecer uma amiga de Zara. Só aí lhe soube o nome, só aí soube que se ia casar, só aí se sentiu mais próximo do que nunca. Chamava-se Zara a sua deusa. Soou-lhe perfeito. E ia casar-se. Tantos anos apaixonado e perdera-a de vez. Quem seria ele? Quão feliz estaria ela?
Uma vez mais, Carlos parou. Estaria Vitor a sofrer com as memórias? E ele? Não estavam. Gostavam dela tanto que se sentiam melhor quanto mais nela pensavam. Vitor continuou a vê-la, casada, e não soube se nada tinha mudado, se tinha mudado tudo.
Carlos lembrava-se bem do sentimento. Zara era também a sua apaixonada.
Vitor mantinha-se estático quando alguém se colocava entre si e Zara impedindo-o de vê-la, mas fazia um esforço numa calma aparente. Queria olhá-la continuamente até ela sair umas paragens antes da sua e ficava a vê-la pela janela até desaparecer na curva ou o comboio arrancar.
Carlos quis sentir pena de Vitor mas apenas sentiu de si próprio. Quantos anos apaixonado... Melhor assim; adorá-la ao longe e ter para si o mais puro dos amores, o imaginado.
Vitor deixou de ver Zara. Desapareceu, ela. Carlos não sentia alívio nem raiva, apenas torpor. Por quantos anos mais poderia Carlos viver apaixonado por Zara? E Vitor?
João sabia-o: a vida inteira.
made in eu
2 comentários:
folgo em ver-te, ouvir-te e ler-te! Ri-me a ler "chefe libido", o que não é pouco. Já há muito que tenho um texto guardado para colocar aqui, perceberás porquê se o colocar... a ver vamos.
Não há muitos blogs que falem de sodomia entre índios e dívida soberana. Aqui vive-se sem restrições a sexualidade reprimida. Quem a não tem que poste já!
Diz, ou melhor, não digas que leste os 112 nomes (?)
Coloca lá/cá isso.
Há que abandalhar o mundo. Escrever o primeiro pensamento da manhã que, como a urina, é o melhor para análise. Hoje acordei a querer matar um preto. Dois meios mundos chamar-me-iam racista; o problema estava em ser um preto e não em matar? Que análise fazes tu dum pensamento destes? Merece uma primeira mija? Também creio que sim.
Enviar um comentário