Das três vezes que Salomão meteu a viola no saco, fê-lo a sorrir porque rir faria de si pateta, pensou.
Dava-lhe especial prazer conseguir os seus objetivos e deixar os outros acreditarem que nada tivera a ver com aquilo. Gostava de fazê-lo com diplomacia e deixar que passasse à história.
Na primeira vez, foi no assalto ao café do prédio. "Quer dizer que o senhor, à mesa, e não viu os assaltantes" "Isso mesmo, senhor agente" "E espera que eu acredite?" "Espero, porque se não acreditar, então acreditará numa mentira" "Não posso provar nada mas faça-me um favor, desapareça-me da vista"
A segunda aconteceu literalmente depois de duas canções; o dono do bar pediu-lhe para sair. E Salomão saiu a sorrir. Conseguira fazer o favor ao amigo, de cantar por ele, sem perder a noite toda. E cantar mal foi um esforço que teve de fazer.
A terceira aconteceu com a namorada casual de de vez em quando. Até as poucas horas perdidas de muitas em muitas semanas eram difíceis de suportar. Aguentou-as com tenacidade até ao dia em que a parte mais fraca cedeu e ele, com a "viola no saco", agradeceu aos céus, e com ela nas mãos cantou bem e de verdade, não para quem o quisesse ouvir, mas para si próprio.
made in eu
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