sábado, 16 de maio de 2009

o tempo e o espaço

Que é o tempo? Um mistério: é imaterial e omnipotente. É uma condição do mundo exterior; é um movimento ligado e relacionado com a existência dos corpos no espaço e com a sua marcha. Mas, deixaria de haver tempo, se não houvesse movimento? Não haveria movimento sem o tempo? É inútil perguntar. É o tempo uma função do espaço? Ou vice-versa? Ou são ambos idênticos? Não adianta prosseguir perguntando. O tempo é activo, tem carácter verbal, "traz consigo". Que é que traz consigo? A transformação. O Agora não é o Então; o Aqui é diferente do Ali; pois entre ambos intercala-se o movimento. Mas, visto ser circular, e fechar-se sobre si mesmo, o movimento pelo qual se mede o tempo, trata-se de um movimento e de uma transformação que quase poderiam ser qualificados de repouso e de imobilidade: o Então repete-se constantemente no Agora, e o Ali reaparece no Aqui. Como, por outro lado, nem sequer os mais desesperados esforços nos podem fazer imaginar um tempo finito ou um espaço limitado, decidimo-nos a configurar eternos e infinitos o tempo e o espaço, evidentemente na esperança de obter dessa forma um resultado, se não perfeito, ao menos melhor. Ora estabelecer o postulado do eterno e do infinito não significa, porventura, o aniquilamento lógico e matemático de tudo quanto é limitado e finito, e a sua redução aproximada do zero? É possível uma sucessão no eterno ou uma justaposição no infinito? São compatíveis com as hipóteses de emergência do eterno e do infinito, conceitos como os da distância, do movimento, da trasnformação, ou a simples existência de corpos limitados no Universo? Quantas perguntas improfícuas!

A Montanha Mágica - Thomas Mann

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